Existe uma máxima que diz que você é o que você come. Bem, se levarmos essa citação ao pé da letra, passaremos a culpar menos as grandes corporações pela desordem climática e ambiental que vivemos. Como abordei anteriormente, o sistema agroalimentar é responsável por 31% das emissões de carbono globais — de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). Agora que já sabemos as principais causas, vamos às soluções.
Seguindo com o estudo desenvolvido pela Citi GPS (Citi Global Perspectives & Solutions), divulgado em julho deste ano, vou destacar seis alternativas eficazes para mitigar as emissões de gases de efeito estufa na cadeia produtiva de alimentos. Antes de prosseguir, vale lembrar que não existe fórmula mágica e nem receita de bolo. Contudo, soluções integradas trazem resultados mais rápidos e assertivos.
Aqui, vamos destacar:
Agricultura regenerativa
Pecuária de baixo carbono
Redução do desmatamento
Redução do desperdício de alimentos
Investimento de tecnologias de baixo carbono
Investimento em inovação
Com ações complementares, algumas iniciativas reduzem as emissões, enquanto outras sequestram o carbono da atmosfera. Vale lembrar que a implantação das ações é fator essencial para a neutralização de gases poluentes, mas também impulsionam outros benefícios, como conservação do solo, mitigação de uso de recursos, proteção da biodiversidade, entre outros.
1- Agricultura regenerativa
Também conhecida como agricultura de baixo carbono, a iniciativa é considerada um dos pilares da neutralização de emissões na cadeia produtiva de alimentos. A atividade pode incluir uso de plantas de cobertura, integração da pecuária e redução ou eliminação da lavoura.
Outra aplicação da agricultura regenerativa é a melhoria da saúde do solo, que tem o potencial de sequestrar carbono, elevar a biodiversidade e proteger a qualidade da água. Um case que vale ser citado é a General Mills — uma das maiores empresas de alimentos do mundo. O grupo vem avançando em suas iniciativas de baixa emissão em 1 milhão de hectares de terras agrícolas até 2030.
Para alcançar a meta, a empresa lançou uma série de projetos-piloto, além de realizar uma série de estudos sobre o tema com o intuito de mensurar os impactos no meio ambiente e nas culturas de produção. A General Mills ainda desenvolveu uma ferramenta própria de autoavaliação que auxilia agricultores a entenderem como suas práticas estão alinhadas com os conceitos de agricultura regenerativa. Até o momento, 115 mil acres de terras fazem parte da iniciativa.
2- Pecuária de baixo carbono
Talvez uma das maiores vilãs do meio ambiente, a pecuária é também um dos grandes pilares da cadeia produtiva de alimentos. Responsável pela produção de carnes e laticínios, a atividade engloba centenas de empresas, distribuidores, varejistas e consumidores. E mitigar emissões em uma indústria com tamanha demanda torna o desafio ainda maior.
A mudança de hábitos alimentares da população faz parte da solução. Com a redução do consumo de carne e laticínios, consequentemente, a produção também sofrerá impactos. Mas a queda das emissões vai muito além de comer ou não proteína animal. A mudança começa na outra ponta, ainda nas fazendas.
Aumentar a produtividade com rações de maior qualidade, melhorias na genética dos animais e na saúde dos mesmos, reciclagem de nutrientes do sistema pecuário e investimentos em inovação são algumas alternativas.
A FAO estima que as melhores práticas de gestão por si só no setor pecuário poderiam reduzir as emissões líquidas dos sistemas — metano em particular — em cerca de 30%.
3- Redução do desmatamento
Como todos os elos estão interligados, interromper e reduzir os índices de desmatamento dialogam diretamente com a descarbonização do sistema pecuário. De acordo com o estudo da Citi GPS, a produção de carne bovina, soja, óleo de palma e produtos florestais estão no topo da lista da destruição da flora, variando de região para região.
No Brasil e África, por exemplo, a pecuária é a atividade que mais desmata. Já na Indonésia, a extração do óleo de palma lidera o ranking. Interromper o ciclo de agressões ao meio ambiente é parte mais do que fundamental para atingirmos uma economia neutra em carbono.
Frear o desmatamento gerado por commodities é desafiador, ainda mais considerando que o consumo desses produtos, normalmente, acontecem a milhares de quilômetros das regiões prejudicadas. O relatório aponta que os países mais ricos são os maiores responsáveis pelo desflorestamento impulsionado pelo comércio. Aqui, o destaque vai para a UE e China, como os maiores importadores do desmatamento.
Talvez este seja um dos problemas mais complexos de solucionar, pois envolve diferentes atores do cenário internacional, além do consumidor final. E ações colaborativas podem ser divididas em diretas e indiretas.
Atividades diretas: políticas de conservação, regulamentação e fiscalização de áreas protegidas são alternativas eficazes e importantes. Pagamento por serviços ecossistêmicos como REDD+ e reabilitação de terras degradadas são outros exemplos.
Atividades indiretas: redução do desperdício de alimentos e mitigação de demandas por commodities de risco florestal, como o consumo de carne.
4- Redução do desperdício de alimentos
De acordo com a Food and Land Use Coalition, a perda econômica direta associada com o desperdício de alimentos é de US$ 1,25 trilhão. Se para cada US$ 1 as empresas investissem na redução do desperdício, elas economizariam cerca de US$ 14 em custos operacionais e, consequentemente, o valor na ponta final também seria impactado.
Abrandar a perda de alimentos é uma iniciativa sem malefícios. Todos saem ganhando: agricultores, empresas, consumidores e o meio ambiente. A reversão do quadro resultaria na queda do uso de recursos como água, terra e fertilizantes, além de promover a segurança alimentar e a desnutrição de mais de 600 milhões de pessoas que não têm comida o suficiente para viver.
Se os benefícios são tantos, então por que ainda patinamos nesse quesito? Primeiramente, o real desperdício precisa ser mensurado. Ou seja, entender onde, como e o que estamos desperdiçando. Na cadeia produtiva, combater o problema engloba todos os elos da indústria como produção, processamento, infraestrutura, armazenamento, comercialização e consumo.
5- Investimento em tecnologias de baixo carbono
Quase nenhuma mudança efetiva nos dias atuais deixa de passar pela tecnologia. Cada indústria possui suas próprias questões, mas contar com parceiros que forneçam ferramentas para otimizar o trabalho faz toda a diferença.
Investir em soluções de baixo carbono, como bombas de calor, biomassa, energias renováveis, além de incentivar a descarbonização do setor de transporte com o uso de caminhões elétricos e combustíveis verdes.
6- Investimento em inovação
Inovação é a palavra de ordem para mudanças globais substanciais. Novas soluções desenvolvidas por multinacionais ou startups são a chave para que muitas questões acima sejam resolvidas.
Biotecnologia agrícola é um conceito que abrange diferentes atividades como produção de espécies de plantas que ofereçam melhor desempenho de consumo, por exemplo. Existem startups focadas exclusivamente neste tipo de solução, como o desenvolvimento de produtos que elevam a absorção de nutrientes do solo — o que pode elevar a eficiência de todo o sistema alimentar.
Como citei anteriormente, a pecuária e o consumo de carne são antagonistas nessa equação. Não é por acaso que tantas empresas estejam investindo em proteínas alternativas — alternativa que vem impactando fortemente o mercado e os hábitos alimentares da população.
Inovação para redução de desperdício de alimentos é outro ponto de atenção. Já ouvimos falar de soluções que prolongam a vida útil da comida, permitindo que frutas e vegetais sobrevivam mais tempo sem refrigeração, por exemplo.
Conhece alguma startup que oferece soluções inovadoras para algum dos pontos citados? De que forma a iniciativa privada pode contribuir mais para reduzir as emissões da cadeia produtiva dos alimentos?
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