Blockchain e crédito de carbono: a união de duas forças em prol do meio ambiente

Blockchain e crédito de carbono: a união de duas forças em prol do meio ambiente

Blockchain e crédito de carbono: a união de duas forças em prol do meio ambiente

Afirmo categoricamente que inovação e ESG são as duas forças principais que movem o mundo atual. E seu encontro seria não apenas inevitável, mas extremamente necessário. Numa ótica pessimista, podemos considerar que o desenvolvimento econômico aliado à inserção de tecnologias na sociedade, contribuiu em parte para a degradação do meio ambiente. Criou-se quase uma relação de algoz e vítima, antagônicas. Mas a grande verdade é que hoje, a tecnologia e a inovação estão se constituindo na força motriz da revolução ambiental.

Demorou, mas chegamos ao que pode ser considerado um clímax do desenvolvimento nos tempos modernos. Se a invenção da criptomoeda, há alguns bons anos, revolucionou a forma como enxergamos o ecossistema digital, o crédito de carbono está dando uma nova roupagem a ele. Uma nova razão de ser.

Como é sabido, a moeda de troca do meio ambiente, o crédito de carbono, é uma unidade de medida que calcula a quantidade de CO2 emitida na atmosfera terrestre. Um ativo imaterial que promete ser um mercado muito, mas muito rentável. E startups especializadas na comercialização deste “item” já identificaram essa tendência.

Até pouco tempo atrás, a ideia de remover gigatoneladas de carbono na atmosfera para reverter a mudança climática parecia intangível, enredo de ficção científica. Mas com a tecnologia e o incentivo certo, estamos caminhando a passos largos para a realização desse feito. E um grande aliado nessa batalha é o blockchain.

Um plano do Banco Mundial utiliza a tecnologia para regulamentar as transações do elemento químico, mas questão contábil da moeda é ainda um entrave para a comercialização deslanchar de vez. Na COP 26, algumas regras foram aprovadas para a troca de carbono com transparência, em um consenso entre 200 países.

O Artigo 6 do Acordo de Paris não criou um mercado de carbono centralizado, como uma grande bolsa de valores de créditos negociados e regularizados. Ele desenvolveu diretrizes para as trocas de redução de CO2 — tendo a descarbonização e a colaboração como princípios básicos.

Muitos detalhes técnicos ainda estão nas entrelinhas da questão, mas vamos focar no papel do blockchain no meio disso tudo. O Climate Warehouse é um experimento desenvolvido pelo Banco Mundial. Em fase piloto, o projeto promete levar o mercado de carbono a escalas globais, de forma descentralizada e pública.

Sem estar concentrado em um único lugar e planando em um ecossistema de alta segurança, o projeto proposto pelo Banco Mundial atuará, em princípio, apenas com transações entre países. Em outra esfera desse cenário, existe o mercado voluntário, que é onde as startups entram.

Os unicórnios do clima

As greentechs, ESGTechs, climatechs ou como queira chamar atuam diretamente nos bastidores desse show. Mercado voluntário é aquele onde empresas compram e vendem créditos de carbono para cumprir metas de não emissão.

Sabendo do valor tangível e intangível dessa moeda, startups passaram a desenvolver projetos de preservação de florestas, por exemplo, como forma de gerar crédito. Uma verdadeira commodity. Com uma enxurrada de corporações prometendo se tornar “net zero”, nada mais natural.

Uma pesquisa desenvolvida pela Ecosystem Marketplace em 2021 revela que o valor transacionado no mercado voluntário de carbono no ano passado já havia superado em 60% o registrado em 2020 — isso em apenas oito meses. Até agosto, foram negociados 239,3 milhões de créditos.

A Moss, startup líder em comercialização de crédito de carbono em blockchain, é um case de sucesso quando falamos em tecnologia climática. A empresa chegou a captar R$ 100 milhões destinados a projetos de sustentabilidade e preservação da floresta amazônica. Para realizar as transações, a companhia criou o token MCO2 — uma representação do crédito de carbono no blockchain.

A sacada foi, realmente, de mestre. Tanto que a startup já é parceria de grandes companhias como Gol, iFood, PagSeguro, entre outras. Vincular os créditos de carbono em blockchain assegura o rastreamento da moeda. Um fenômeno que ficou conhecido como tokenização e já vem sendo amplamente adotado por outras empresas.

As startups passaram a monetizar as transações de compensação de carbono de empresas que buscam bater suas metas, seja com ações próprias ou comprando tokens de quem o faz. Outras pensam em incluir os consumidores de seus parceiros na equação, como uma taxa a mais a ser cobrada no valor final dos produtos. São os unicórnios do clima dando suas caras. E já podemos nos acostumar com elas, pois a tendência é que essa “categoria” ganhe mais espaço conforme o mercado se consolida.

Papel do BNDES na economia sócio-ambiental

O BNDES, enquanto banco do desenvolvimento sustentável do Brasil, se posiciona como grande viabilizador e articulador público-privado nessa agenda tão relevante. Faremos uma chamada pública para aquisição de R$ 10 milhões em créditos de carbono, com prioridade para títulos de reflorestamento, energia e Redd+ (redução de emissões provenientes de desmatamento e degradação florestas). Sua operação piloto é fruto da integração entre o banco, empresas compradoras e vendedoras.

A ideia é estimular a descarbonização e alcançar as metas propostas pelo Acordo de Paris. Desta forma, a instituição financeira reforça seu propósito ESG em mais uma frente de atuação, fomentando as comercializações. De acordo com o BNDES, o mercado voluntário precisa crescer 15 vezes para atingir as metas do acordo global.

Fica aqui todo meu reconhecimento e admiração pelos executivos que, desde 2019, lideraram essa pauta como prioridade para a instituição: Bruno Aranha, Bruno Laskowsky, Lourenço Tigre, Nabil Kadri, Julio Leite, Pablo (AMC) entre tantos outros por aqui das diretorias de crédito socioambiental, mercado de capitais e financeira.

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