No sentido literal da palavra, ambidestria significa a capacidade de usar as duas mãos com a mesma habilidade. Adotado pelo universo corporativo, o termo ganhou uma nova definição que vem sendo amplamente utilizada para falar sobre inovação. A ambidestria organizacional desempenha um papel fundamental na sobrevivência de empresas que conseguem equilibrar sua razão de existir com o desenvolvimento de uma zona de experimentação, onde moram soluções disruptivas.
À primeira vista, balancear a geração de resultados e construir um futuro que acompanha as transformações do mercado pode soar simplista. Mas não é. Empresas ambidestras são eficientes em seus negócios e criativas na implantação de novos modelos e soluções, aproveitando o uso de tecnologias em voga no mercado.
Grande parte das corporações nascem com um propósito, uma competência pré-determinada que orienta as estratégias do dia a dia. E nessas certezas que mora o perigo. Muitas vezes, organizações tornam-se reféns de seus modelos de negócios, processos, cultura e perspectivas. Um ciclo vicioso do atraso.
O conceito de organização ambidestra já é um velho conhecido dos empreendedores, mas relativamente recente dentro da linha do tempo da inovação. O termo surgiu em meados de 2011, em artigos publicados por Michael Tushman e Charles O’Riley, e confabula diretamente com outro assunto que abordamos recentemente: os Três Horizontes da Inovação.
As teorias apenas deram um pano de fundo de como as empresas deveriam pavimentar sua inovação. O que, de fato, foi a cola que uniu todos os conceitos, foi a Lean Innovation, que fundiu os termos com metodologias práticas pertencentes à ideia de lean startup, fechando um ciclo.
Em tempos de blockchain, Big Data, I.A., entre outras tecnologias que romperam barreiras no empreendedorismo, o debate acerca da ambidestria organizacional faz todo o sentido. De nada adianta termos tantas ferramentas à mão sem saber fazer um uso frutífero das mesmas. E não se trata apenas de criar novas soluções, mas também de incrementar o core business já existente.
Muitas corporações têm enraizado seu foco em H1 e H2 — que ressalto, são parte vital para o sucesso de mercado — mas ainda não conseguem olhar para o H3. Negócios pautados na velha economia tendem a subestimar a força de metodologias, fundamentos e ferramentas como a inovação aberta, por exemplo.
Para começar algo novo, não é necessário abandonar o passado. Empresas ambidestras nasceram para mostrar que é possível combinar processos rotineiros com projetos inovadores. É alimentar o presente e semear o futuro. Não importa o quão próspera seu negócio seja agora, para se tornar obsoleto, basta uma ideia.
Uma jornada e não um fim
Como sabemos, a inovação é uma jornada e não uma linha de chegada. Adotar uma cultura ambidestra e disruptiva é uma construção em larga escala, mas pautada em pequenas ações do dia a dia. É preciso que a mentalidade esteja alinhada com os anseios futuros do negócio, de olho em tendências e encontrar os caminhos de viabilização para o desenvolvimento de iniciativas mais eficientes.
Para uma empresa se considerar ambidestra, é possível considerar três aspectos para colocar o conceito em prática: ambidestria estrutural, ambidestria cíclica e ambidestria simultânea.
A ambidestria estrutural acontece quando duas ou mais equipes atuam de maneira separada: uma voltada a eficiência operacional e a outra focada em inovação. Cada time opera com seu próprio modelo de gestão, mas de forma integrada em prol do negócio.
Já a ambidestria cíclica é formada por apenas uma equipe, que trabalha orientada pelo core business em determinado período de tempo, alternando com fases direcionadas a processos de inovação. Na simultânea, os times não são divididos e atuam de maneira conjunta, com colaboradores trabalhando para a excelência operacional e desenvolvimento de novas soluções.
Além de definir a estrutura organizacional, algumas práticas simples podem auxiliar na implantação da ambidestria, como a construção de espaços físicos ou virtuais de confiança, comunicação transparente, planejamento, prioridades e metas, treinamentos e mindset colaborativo. O negócio, a equipe e as lideranças perceberão aumento da produtividade, maior competitividade frente ao mercado e avanços nos resultados.
No BNDES, fazemos o uso da ambidestria cíclica, apoiando projetos como o Floresta Viva, voltado à restauração ecológica, ou o Resgatando a História, que busca recuperar o patrimônio histórico e cultural do país. Outro exemplo é o blended finance, que opera com otimização do uso de recursos não reembolsáveis para fomentar o desenvolvimento sustentável e de impacto.
Qual foi a última vez que sua empresa fez algo pela primeira vez?
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